quarta-feira, 28 de março de 2007

A minha fotografia


Quando pressiono o botão de disparo da minha câmera fotográfica, ponho tudo a perder. Perco a noção de tempo, espaço e nem sei se as estrelas ainda estão vivas. Perco alguns neurônios, sais minerais e uma boa parte de glicose, também. Perco aquela sensação vertiginosa do flash, pois estou com o olho no pentaprisma e apenas sinto a vibração do diafragma. Minha mente também abre e fecha. A luz entra e, enquanto a última cena ainda passeia pelos nervos, procurando um local no lóbulo para se alojar, a outra já está acontecendo e meu dedo, novamente, está pronto para mais um clique. Tenho na memória que somente o violino, também instrumento de arte como a câmera, é usado pelo rosto durante uma performance criativa. Minhas fotos também, às vezes, possuem a agudez de um violino. Agudez suave e digna, diga-se de passagem. Sentir o bater da foto com o rosto colado na câmera é como tocar um elástico entre os dentes. Ninguém ouve, ninguém vê... E o mistério de uma foto é tudo o que eu não posso perder.